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parte II

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Azevedo
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parte II

Mensagem por Azevedo »

Em algumas ocasiões, os combatentes aéreos tiveram a oportunidade de descrever suas experiências assim que estas aconteciam. Tal foi o caso de Charles Murrel, um jovem operador de rádio da 20ª Força Aérea que escreveu uma carta para os seus tios durante um dos ataques de bombardeamento incendiário a baixa altitude sobre Tóquio em março de 1945. O resultado é uma extraordinária janela voltada para o mundo do combate: “2:00 da manhã. Nós agora estamos sobrevoando a costa. Avisado pelo piloto para colocar todo o equipamento – pára-quedas, colete e capacete. 2:30 da manhã. Posso ver, através dos buracos nas nuvens, os incêndios à frente. Tóquio está em chamas. 2:45 da manhã. Nós começamos a aproximação final. Estamos mais iluminados pelo fogo abaixo do que uma árvore de Natal. Esse é a hora crítica para nós já que é nesse momento que estamos mais vulneráveis. A flak explode em toda a nossa volta e o avião balança mais do que um berço, mas a gente segue reto. 2:50 da manhã. Estamos sobre o alvo. Debaixo de nós, milhas e milhas de Tóquio estão envoltas em um incêndio destrutivo. Palavras não conseguem explicar. Posso ver quadras e mais quadras de prédios de quatro a cinco andares prontos para desmoronarem. É realmente como se estivesse olhando para as profundezas do inferno. 2:55 da manhã. Nós nos afastamos do alvo e somos pegos por uma teia de holofotes. O piloto faz manobras evasivas violentas, mas eles nos mantém em um cone de luz. Mais e mais flak explodem à frente, atrás, à esquerda e à direita. À minha direita, de repente uma grande explosão e uma bola de fogo no céu. Eu cruzo os dedos e peço para que não seja um dos aviões. Eu sei que, se for, não haverá sobreviventes. 3:00 da manhã. Nós estamos a várias milhas de distância do alvo, mas eu olho para trás e é como se fosse um oceano de fogo. 3:10 da manhã. A tripulação reporta ao piloto. Artilheiro de cauda: ‘Tudo OK aqui’. Artilheiro da esquerda: ‘Tudo OK aqui.’ Cada membro da tripulação reporta o mesmo. Apesar de tudo, nós conseguimos atravessar incólumes. Eu relaxo e acendo um cigarro já que estamos várias milhas mar adentro e indo para casa.” Em uma outra missão logo após essa, as coisas não saíram como esperado. O avião de Murrell foi abatido e ele foi listado, para sempre, como desaparecido em combate.

Cada missão começava com a instrução (briefing). O objetivo era informar aos aviadores sobre a missão e o tipo de resistência inimiga a ser encontrada, bem como qualquer outra informação pertinente. Para a maioria das missões diurnas, os aviadores de combate precisavam ser acordados no meio da madrugada para as instruções. Na maioria das vezes esse era o caso com as tripulações de bombardeiros que voavam na missões diurnas. Jack Novey do 96º Grupo de Bombardeiros nunca se esqueceu da sensação de ser acordado no meio da noite: “Quando eu fecho os olhos, eu ainda posso ver e ouvir. A hora é 03:00 de uma manhã fria e chuvosa na Inglaterra durante o outono de 1943. Eu permaneço deitado no beliche ouvindo a chuva. Os outros rapazes roncam. Logo o sargento responsável pelo Charge of Quarters (Charge of Quarters ou CQ é o nome usado para definir o militar – geralmente um cabo – responsável pela guarda em frente aos alojamentos – N. do T.) vem pisando firme pela calçada abrindo as portas dos alojamentos e chamando pelos nomes. Então ele abre a nossa porta e chama pelos nomes daqueles que estão relacionados para voarem hoje. Nós todos resmungamos enquanto levantamos. Nós vamos para o banheiro, nos lavamos, voltamos para o beliche e nos vestimos. Está escuro, frio e chovendo. Imaginamos quem irá viver e quem irá morrer hoje.”
A próxima parada na maioria das vezes era a cantina onde as tripulações tomavam o café da manhã de pré-combate, geralmente ovos com salsichas tudo regado com café. Horas mais tarde do mesmo dia e mais comumente nos grupos de caças, os comandantes simplesmente enviavam mensageiros para convocar de porta em porta os pilotos para a sala de instruções antes de uma missão.

A instrução era como um ritual. Lloyd Haefs, um bombardeador do 2º Grupo de Bombardeiros, lembra de ser acordado no meio da noite e ser avisado para se apresentar para instrução. Ele tirou fora o frio da noite do deserto do norte da África, se vestiu e caminhou até o quartel-general do grupo: “Todos nós esperamos o anúncio do alvo com grande curiosidade até o coronel prontamente desfazê-la ao puxar de lado a cortina e revelar o mapa do norte da Itália. A cidade de Bolonha estava marcada como alvo principal e ele começou a descrever a fábrica de seis andares que funcionava como produtora de rolamentos.”

James Campbell, um piloto do 380º Grupo de Bombardeiros no Pacífico, registrou uma descrição detalhada das instruções na sua unidade: “O comandante do esquadrão começava a instrução nos dizendo onde nós iríamos (por exemplo Lombox Straights (sic) (Aqui o depoente se referiu erroneamente a Lombok Strait, ou seja, um estreito que conecta o Mar de Java ao Oceano Índico na Indonésia – N. do T.), Ambon, Rabaul, etc.). Ele também anunciava os líderes do vôo e os outros na formação. O próximo a passar instruções era o oficial da inteligência. Ele mostrava fotos aéreas do alvo e também nos avisava quantos caças japoneses eram esperados, quantas baterias anti-aéreas haviam lá e sua localização, aonde estavam os submarinos para evacuação e (...) onde estavam os aviões de resgate e como fazer para entrar em contato com eles. Uma das coisas que o oficial de inteligência era obrigado a nos dizer: ‘Se vocês forem capturados, digam apenas o nome, patente e número.’ Eu costumava a dizer para mim mesmo: ‘Besteira, se algum idiota de olhos puxados começar a colocar farpas de bambu debaixo das minhas unhas porque eu não falo, tudo que ele precisa é fazer as perguntas que eu vou cantar que nem um passarinho.’ O próximo na instrução era o meteorologista. Ele apresentava as condições climáticas na rota para o alvo e a previsão das condições do tempo incluindo a quantidade de nuvens esperada sobre o alvo. O próximo na instrução era o comandante do esquadrão para as considerações finais. Ele apontava o IP (Initial Point – Ponto de Início quando se começava a aproximação final, ou bomb run – N. do T.) (...) onde a aproximação final começava, a altitude e o curso na hora do bombardeamento, a hora de ligar os motores, a ordem de taxiar para partida, freqüências a serem usadas e responder a qualquer pergunta para qualquer tripulante. A gente então sincronizava os relógios.”
Sempre atentos aos perigos de qualquer alvo, as tripulações geralmente reagiam positivamente ou negativamente ao serem informadas de sua missão. Ouvia-se um murmúrio angustiante dos homens listados para atacarem alvos como Berlim, Bremen, Viena ou Tóquio. Por outro lado, suspiros de alívio ou risos enchiam a sala se uma unidade fosse relacionada para alvos na França ou norte da Itália. Em certas ocasiões uma enorme agitação se manifestava sobre uma determinada missão apesar dos seus perigos. Wilbur Morrison, um bombardeador do 462º Grupo de Bombardeiros, se lembra de um desses exemplos. Ele e seus companheiros encheram uma sala de instruções na China e ouviram algumas palavras muito bem vindas: “ ‘Senhores, eu sei que vocês esperaram um longo tempo por isso. Mas os meses de treinamento e de sacrifícios pelos quais vocês passaram terão a sua recompensa hoje à noite. Finalmente podemos dizer, hoje iremos bombardear o Japão!’ Um berro ensurdecedor ressoou por todo o local. Eu senti uma mistura de emoções: alegria, medo, consternação.” Essa missão, conduzida no início do outono de 1944, foi o primeiro incursão contra o Japão desde o famoso ataque feito por Doolittle em abril de 1942. Philip Aldery, um piloto e comandante de esquadrão do 389º Grupo de Bombardeiros voou na primeira missão para Ploesti na Romênia, um ataque notório não apenas por suas pesadas baixas mas também pela importância na tentativa de eliminar a fonte primordial do petróleo alemão. Em vista da importância da missão e dos perigos que representava, Aldery disse a seus homens na noite anterior que ele tinha “rezado para mim e incluí palavras para todos vocês, meus bons homens e grandes amigos. Eu gostaria de poder dizer hoje o quão profundo os meus sentimentos estão atrelados pelo bem de cada um de vocês. Mas eu não consigo. Boa sorte. Vamos pensar que nós nos veremos aqui amanhã à noite.”

Porém, poucas missões eram tão dramáticas. Para os aviadores de combate a maioria das missões era meramente parte de uma rotina de existir, lutar e a esperança em sobreviver. Roy Wehman, um co-piloto no 464º Grupo de Bombardeiros, voou suas missões a partir da Itália. Ele se lembra de levantar por volta das 3 da manhã, tomar o café da manhã e de se acotovelar na sala de instrução: “Você chegava lá, se registrava e participava de um serviço religioso. Então eles fechavam as portas e retiravam a cortina e lá estavam os mapas do alvo e da rota. Você era instruído sobre o alvo, onde era e porque você estava indo para lá, tudo muito metódico. Então eles te mostravam o mapa da rota, como você fazia para chegar lá e o instrutor da meteorologia te mostrava que tipo de tempo era esperado durante o vôo. A Inteligência te informava sobre o que se poderia esperar sobre o inimigo e outras informações.”

Na Inglaterra, a tripulação do operador de rádio Roger Armstrong também passava pelo mesmo ritual: “Toda a tripulação ia para a instrução principal. Depois, tinham as instruções para os pilotos, navegadores, bombardeadores e operadores de rádio. Cada um de nós pegava as informações que estavam relacionadas às nossas posições na aeronave. A instrução era um momento de stress para as tripulações pois você tomava conhecimento do local onde você poderia morrer, ser ferido ou mutilado para toda vida. O oficial comandante caminhava rapidamente pelo corredor e subia no palanque. Atrás dele havia um grande mapa coberto por uma cortina. O comandante fazia uma preleção e passava a instrução para o oficial da Inteligência. Este então levantava lentamente a cortina sobre o mapa da Inglaterra e do continente. Sempre havia uma seta em vermelho que começava na nossa base e acabava no alvo alemão. Seu hábito infernal de levantar lentamente a cortina causava murmúrios entre as tripulações que aumentavam em um crescendo quando a seta indicava um alvo que nós considerávamos difícil.”
Coloclinic
Coloproctologia e cirurgia geral
Dr Anderson Azevedo
Proctologia e cirurgia geral
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