Iniciei a montagem de um Tiger 1 da Italeri com a intenção de deixá-lo adequado a algum período histórico, tanto na montagem quanto na pintura. Então comecei a pesquisa e descobri que a montagem fiel à realidade seria muito mais difícil do que imaginava. A quantidade de informação na internet é farta, porém desorganizada. Não encontrei nenhum site que reúne de forma, digamos, ditática as informações para facilitar a vida dos modelistas e historiadores.
Pois então fiz aqui um compilado das principais diferenças que se encontram nos tigers fabricado no começo, no meio e no fim da guerra. Meu intuito é contribuir e criar um local com referência a esse tanque.
Elenquei os detalhes mais notórios, pois em minúcias daria pra ver muita coisa. Tomara que com o tempo eu vá editando e especificando a lista.
Early
Principais características: escotilha do comandante; 24 rodas com aro em borracha; luzes frontais duplas ao lado das escotilhas do driver e do gunner; filtro de ar (“Feifel air cleaner systemâ€); formato do suporte dos ganchos de reboque frontal.
A escotilha do comandante é mais alta, em formato tubo.
Abaixo foto do Tiger “131â€, que provavelmente é o Tiger mais famoso por ser o único funcionando no mundo, ilustra bem as duas características da escotilha do comandante em sua produção inicial:
A imagem acima ilustra a porta com abertura vertical quase em pé em peça única, bem como a doma em formato de torre.
A foto abaixo ilustra bem a posição dos faróis, filtro de ar e escotilha:
“Feifel Air Filtersâ€
Desenho da parte onde se conectam os ganchos de reboque sofreu alterações:
*notar que a parte de baixo é sempre totalmente horizontal, pois é onde o famigerado macaco alemão era apoiado para levantar o tanque para manutenção dos tracks.
Quanto aos modelos disponíveis, a Tamiya tem uma fidelidade incrível na reprodução de detalhes com fundamento histórico. Aqui um bom exemplo com tudo nos conformes:
Já a Italeri, infelizmente, peca grosseiramente ao mesclar sem critério algum as características em todas as variadas opções no repertório deles.
PS: os faróis são muito comuns de serem encontrados nas mais diversas posições em todas os anos de produção. Segundo David Fletcher, isso ocorre porque eles representavam muito incomodo pra pouca utilidade e por isso as unidades mudavam o posicionamento já no field, normalmente quando recebiam a pintura, a gosto.
Mid:
Os Tiger produzidos no período intermediário têm a doma da escotilha do comandante (“cupolaâ€) aprimorada, um pouco menor (mais baixa), com o sistema de girar para o lado a tampa superior, em vez de abrir uma escotilha comum.
Além disso, ainda possuem as roadwheels com aro de borracha.
Abaixo, uma foto do projeto de restauração do “131†(que possui uma série de artigos na pagina do Tank Museum e merece leitura dos aficionados). Fica bem evidente o aro de borracha nas rodas. Já tive a oportunidade de “cutucar com a unha†essas rodas e são extremamente rígidas, demorou pra eu me convencer que elas eram realmente de borracha.
Mais detalhes da porta do comandante num late model:
Aqui uma visão interna da escotilha do comandante. A manivela que tinha que ser girada, dezenas de vezes, para a porta subir ou descer e na sequência deve ser empurrado o cabo para abrir ou fechar. Pouco prático e mostra por que raramente a escotilha do Tiger ficava completamente fechada, pois naquela típica situação de “the tank is on fire†seria muito lento abandoná-lo. Em geral, a escotilha ficava entreaberta, ou seja, sobre o comandante porém não abaixada, o que dava uma excelente visão e proteção comparado a quase qualquer outro tipo de escotilha; por outro lado, ao se evadir do tanque a porta não ficaria aberta na horizontal que daria proteção para a fuga. Alguns vídeos no youtube ilustram isso.
Late:
A principal característica que os identifica são as rodas de ferro, mais robustas (sem o aro de borracha).
Ao lado do canhão, o binóculo foi substituído por monóculo em janeiro de 44:
Tracks
É muito comum que se vejam fotos de Tiger I com tracks bem distintos. Deve ser reparado a distância que as rodas possuem em relação à borda dos tracks. Apesar disso, os Tiger 1 usaram o mesmo tipo de combat tracks durante toda a guerra. Isso ocorre porque usavam tracks de tamanho reduzido, mais estreitos, que eram calçados para facilitar o transporte por trem ao diminuir a largura do veículo. Quase sempre que se vê tracks mais estreitos as “saias†laterais igualmente estão ausentes.
Além da largura, os transport tracks também se diferenciam do combat track visualmente.
Transport, 52cm:
Combat tracks (notar o pequeno “grampo†existente onde o sprocket encaixa – quem já montou um Tiger 1/35 da Italeri esses “gramposâ€, corretamente chamados de bridge, são um incômodo inesquecível), 72,4cm:
Apesar disso, ainda há uma terceira distinção. Note a distância entre a roadwheel e a borda do track. Existe ali um espaço de dezenas de centímetros. Na precária edição que fiz abaixo isso fica mais claro:
O motivo disso é reflexo da quantidade muito grande de rodas que o tiger tinha. Em temperaturas abaixo de zero a lama congelava a ponto de imobilizar um tiger que ficasse algum tempo parado. Isso especialmente em razão da proximidade entre as rodas.
Por isso, conforme imagem abaixo, as rodas em preto foram extintas a partir de janeiro de 1944.
Aqui uma observação: essa é uma das principais dificuldades de se encontra um Early model fiel à história.
Ademais, a mudança tem fundamento técnico. As rodas do Early & mid models estavam tensionadas demais e reduzir a quantidade de rodas geraria ainda mais tensão, devido ao excesso de peso. Então a solução para reduzir a quantidade de rodas e enfrentar o problema da tensão era substituí-las por rodas de ferro, similares a do Tiger 2.
A partir de fevereiro de 44 foram adicionadas as rodas de ferro, no total de 16 por lado, duas em cada braço da suspensão.
Além disso, tente notar alguma diferença entre os tracks direito e esquerdo na imagem abaixo:
Cada link da direita possui 4 formatos de “n†e cada link da esquerda possui 4 formatos “vâ€. Essa foto e observação são do tiger 131 do Tank Museum e é encontrada apenas num pequeno número dos mais recentes tiger 1. A partir de então apenas o padrão da esquerda, “vâ€, que foi adotado. O tiger que está no museu em Munster também apresenta essa distinção de esquerda e direita. Até leningrado foi usado e era comum crews de diferente tanques trocarem as esteiras entre si para ficarem ambas iguais. Apesar disso, nunca reparei num plastimodelo alguma diferença.
Pintura
Um dos conhecimentos mais difundidos é a evolução da cor amarela ao longo da guerra, a ausência de um padrão definido de fábrica de camuflagem e a instabilidade no fornecimento de matéria-prima para tinta.
Por isso, parece que não seria muito fácil errar a pintura de um tiger. Até que você se depara com isso:
Esse é o Vimoutiers Tiger tank, motivo de muita controvérsia que foi propagada, curiosamente o mesmo acidente ocorre com o Matilda, que recebeu uma tinta azulada em vez de cinza, e serviu de base pra muita reprodução equivocada.
Não vou entrar em mais detalhes sobre a pintura pois tenho um artigo a parte, separando os tons de cores Early & mid/late, as marcas Tamiya e Ammo e os padrões de camuflagem.
Zimmerit
Nunca teve um padrão muito bem definido porque eram aplicados ora de fábrica, ora no campo, embora certos desenhos são vistos com mais frequência, quase sempre traços horizontais de 18x4cm.
Foram aplicados de 42 até setembro/outubro de 44. Ou seja, estava presente apenas nos mid e late. Vale observar que já em agosto de 44 a produção de Tiger 1 passou a ser esporádica.
