No final de 2016, passei por momentos difíceis com minha saúde e em janeiro de 2017 decidi tirar uns dias de folga do trabalho e também tirar férias do plastimodelismo (queria descansar de tudo!), mas em casa, motivado por minha filha mais velha, acabei vasculhando velharias em meu “cemitério de kits†(ela queria escolher um para montar) e acabei encontrando uma relíquia bem antiga de aproximadamente 35 anos atrás...
Eram restos de um antigo kit Revell relativo a um automóvel fabricado em 1939 pela Mercedes Benz, onde meu irmão na época o colou sem aplicar qualquer tinta. Estava todo destruído e numa avaliação melhor (baseado no folheto das instruções), notei que faltavam várias peças, dentre elas os pára-choques dianteiro e traseiro...
Juntei tudo e levei para minha “bancada†objetivando ver melhor as peças quando as crianças estivessem dormindo. Confesso que “carros†não é minha praia no modelismo, entretanto, a escala deste kit (1/48) me chamou a atenção por não ser muito corriqueira de se ver nas exposições de plastimodelismo.
Após avaliar tudo, acabei limpando as peças e durante o processo minha mente já ia idealizando mudanças e opções de substituição das peças faltantes... quando vi, já estava com a mão na massa (será que isso é doença?).
Nessa altura, não queria me envolver com um novo projeto (não sou bom em tocar vários projetos de uma só vez) e meus atuais projetos estão bem “atrasados†no que previ de início, mas aquele pequeno carro de poucas peças realmente chamou minha atenção e após me convencer de que deveria montá-lo resolvi que seria um projeto rápido, sem muita pesquisa e ajustes técnicos.
A montagem durou pouco mais de 30 dias. Os experts em carros que me perdoem se cometi algum erro, mas ao vê-lo pronto fiquei feliz em concluir que aquele pequeno kit havia sido recuperado e que estava melhor do que quando o reencontrei. Mas não esperem grande coisa! Como falei, não é minha especialidade (monto aviação), mas que sirva de diversão e alvo de críticas para os aficionados dessa elegante categoria!
Segue sua história:
HISTÓRIA DO MERCEDES 540K
Em 1936 no Paris Motor Show, Friedrich Geiger apresentou seu projeto evolutivo da série SSK: O Mercedes 500K. Inicialmente disponível como um dois lugares cabriolet, ou quatro lugares coupé ou sete lugares "limousine" (a limousine tinha laterais e vidros blindados), sendo considerado um dos maiores carros da época...
O motor de 08 cilindros em linha do 500K com exatos 5000 centímetros cúbicos (Daí o nome "500K") evoluiu para 5400 centímetros cúbicos, que aspirado por carburadores duplos de corrente ascendente e pressurizados, desenvolveu 115 cv e complementado por um Roots Supercharger adicional (apelidado de "Kompressor") que poderia ser acionado manualmente por curtos períodos, ou automaticamente quando o acelerador chegasse totalmente ao chão. Este aumento de potência elevava para 180 cv, criando uma velocidade máxima de 170 quilômetros por hora (um "sonho" para os motoristas da época)...
Com a nova potência do motor, o Mercedes modelo 500K evoluiu para o "540K" mantendo o mesmo layout do chassi, mas foi significativamente aliviado pela substituição da viga do quadro do 500K por tubos de secção oval (uma influência vinda das corridas Silver Arrows que aconteciam na época).
O projeto previa tração traseira através de uma caixa de velocidades manual de quatro velocidades ou opcional de cinco velocidades que apresentava sincronia nas três velocidades superiores. Freios hidráulicos assistidos por vácuo mantinham o carro sob o controle do motorista...
Para atender aos desejos individuais dos clientes, três variantes de chassi estavam disponíveis para o 500K: duas versões longas com uma distância entre eixos de 3290 mm, diferindo em termos de força e layout de carroçaria; E uma versão curta com 2980 mm. A variante longa, denominada "chassis normal" com o radiador diretamente acima do eixo dianteiro, serviu de espinha dorsal para os cabriolettes de quatro lugares "B" (com quatro janelas laterais) e "C" (com duas janelas laterais) nos Carros do tipo "Sedan". O chassis mais curto era para o cabriolet de dois lugares "A", montado em um chassi em que o radiador, motor, cockpit e todos os módulos traseiros foram deslocados 185 mm do eixo dianteiro para dar um ar de "esportivo"...
A fábrica de Sindelfingen empregou 1500 pessoas para fabricar os 540K e permitiu uma grande quantidade de personalizações aos proprietários, o que significa que do total fabricado, apenas 70 chassis ficaram livres de customizações. O 540K virou "febre" entre as celebridades. Dentre os proprietários famosos da época podemos destacar Jack L.Warner dos estúdios de cinema de Warner Brothers...
Fábrica da Mercedes-Benz na cidade de Sindelfingen em 1939...
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939, a proposta de melhoria adicional do motor para 5800 centímetros cúbicos (destinado ao futuro modelo 580K) foi abortada em 1940, sendo fabricadas pouquíssimas unidades...
A produção do chassi cessou em 1940, com o último sendo utilizado neste mesmo ano. Por encomenda, chassis foram fabricados em menor número abrangendo o período de 1941 a 1943. Há registros de peças de reposição regulares fabricadas por encomenda em 1944 para atender alguns carros.
Em cima dos carros normais e roadster, 12 carros especiais foram desenvolvidos com comprimento de chassi estendido na distância entre eixos de 3880 milímetros. Todos esses carros foram desenvolvidos para a hierarquia nazista com seis lugares. Para suportar a blindagem maior, esses carros utilizaram a recém desenvolvida suspensão traseira "De Dion" e devido ao seu peso maior, a velocidade máxima desta versão ficou em 140 km/h...
Após a tentativa de assassinato do Major-general da SS Reinhard Heydrich em Praga, no final de maio de 1942, a Chancelaria do Reich só usaria carros blindados para ministros e líderes da SS. Ao lado de 20 grandes Mercedes-Benz 770s, em 1942 eles pediram um adicional de vinte 540Ks desenvolvidos como duas portas e blindados. Estes foram entregues durante 1942 e 1943. Uma ordem adicional de mais 17 foi aberta em 1943 mas estes sofreram atraso e foram entregues somente em abril de 1944. Um destes carros foi dado de presente por Adolf Hitler a Ante Pavelic, líder do estado independente da Croácia. Após a guerra este carro foi capturado e usado primeiramente por Ivan Krajacic, e então por Josip Broz Tito...
Em 1937, Hermann Göring encomendou um 540K, em sua cor favorita "céu azul" com o brasão de sua família em ambas as portas. Ele incluía blindagem lateral e vidros à prova de balas. Apelidado de "Ganso Azul", Hermann Goering foi muitas vezes fotografado no carro...
Em 04 de maio de 1945, o Exército dos EUA (Companhia C, 326ª Motorizada, 101ª Divisão Aerotransportada "Screaming Eagles") entrou em Berchtesgaden e ao encontrar o "Ganso Azul" tomou posse deste. O major-general Maxwell Taylor usou o carro como seu veículo de comando na Alemanha Ocidental até que foi requisitado pelo Tesouro dos EUA. Enviado para Washington - DC, foi usado na turnê da vitória. Em 1956 o carro foi leiloado pelo Exército dos EUA no Aberdeen Proving Grounds em Maryland e vendido a Jacques Tunick de Greenwich da cidade de Connecticut, pelo lance de US$ 2167...
Em 1958, foi vendido à coleção particular do Dr.George Bitgood Jr. (um veterinário) que o repintou e refez as partes cromadas. Guardado privadamente, Bitgood só o exibiu uma vez na feira do condado de 1973 em Durham, Connecticut. Depois da morte do Dr.Bitgood, o Ganso Azul foi mostrado por sua família na 101º Airborne Reunion em Fort Campbell, Kentucky, em junho de 2002. O carro foi vendido então à Carnlough International Limited em Guernsey, ficando exposto na sua atual condição num jardim da Berchtesgaden.
PRODUÇÃO:
A produção combinada dos 500K (342 carros) e 540K (419 carros) feitos na cidade de Sindelfingen (inclusive customizações) foi de:
- 70 chassis sem corpo
28 carros abertos
23 sedans com 4 portas (principalmente 500K)
29 sedans com 2 portas (principalmente 540K)
12 Coupés
06 Autobahn cruisers
58 Roadsters
116 Cabriolet A
296 Cabriolet B
122 Cabriolets C
01 protótipo.
-A Mercedes-Benz é uma marca pertencente ao Grupo Daimler AG, desde sempre reconhecida pela qualidade e durabilidade dos seus veículos. O Grupo Daimler AG foi fundado em 1924 quando as fábricas Benz & Cia e a Daimler se fundiram numa única empresa.
-O nome "Mercedes" deve-se ao austríaco Emil Jellinek que pediu à Daimler que o nome da sua filha fosse dado a um modelo que ele havia encomendado à marca. O nome foi registrado e acabou ficando para compor o acervo de modelos.
-Durante a 2ª Guerra Mundial a Daimler-Benz teve um papel preponderante no apoio ao exército alemão. Para produzir veículos bélicos, a marca alemã utilizava os prisioneiros de guerra como mão-de-obra. Com o final da guerra e a derrota da Alemanha, a Daiml
-O fim da parceria entre a Daimler e a Benz acabaria no ano 2000. A separação definitiva das duas marcas aconteceria com o fim da Daimler Chrysler AG em 2007.
PEÇAS DO KIT:
Para vocês terem uma idéia de como esse kit é, achei na WEB algumas fotos das peças...
Carroceria, volante, painel e capô (vem injetados na cor vermelha – reparem no pequeno tamanho do kit comparado com a régua)...
Peças cromadas, pneus e transparências – Os pneus de borracha apresentam algumas rebarbas, as peças cromadas são boas, mas descascam com facilidade e as transparências do pára-brisa dianteiro, vidro traseiro e faróis são um pouco densas para a escala (defeito normal na maioria dos kits não só de automóveis)...
Chassi, diferencial, escapamento, habitáculo, bancos e capota – Injetados na cor preta...
Folheto de instruções (simples e objetivo)...
INÃCIO DA MONTAGEM – O “ESTILO†PRETENDIDO:
O primeiro passo foi limpar todas as peças e fazer um dryfit do conjunto. O próximo passo seria decidir qual estilo utilizar... Veículo Militar? Carro de passeio? Peça de Museu? E após ler o conteúdo histórico deste carro, percebi que não havia um estilo único para ele... Isso me liberava para compor algumas mudanças, fugindo do clássico sem afetar muito o resultado final. Como já havia falado antes, a escala desse kit foi o que mais me chamou a atenção e pude até pegar meu “piloto de testes†para ajudar a simular estilos que me agradassem.
De início, pensei num estilo “off-road†moderno, sem faróis, pára-choques, lanternas e emplacamento, com o pára-brisas rebatível (o pára-brisas rebatível existiu em algumas customizações do estilo cabriolet). A cor vermelha seria aplicada para o estilo esportivo e a carroceria bem polida talvez nem precisasse de pintura (idéias, idéias e mais idéias)...
Posteriormente, avaliando algumas fotos de estilos do 540K, acabei desistindo da idéia inicial (como vocês verão mais à frente), mas independente disso, já havia decidido a seqüência de trabalho baseada na de um automóvel real da época: primeiramente o chassi...
CONTINUA NA PRÓXIMA ETAPA...